sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Filhos e carreira


É possível? Quantas mulheres nao se perguntam isso? E qual a resposta?
Confesso que muitas vezes páro pra analisar e refletir o quanto vale a pena a mulher trabalhar fora,depois de ter filhos. Lógico que nos dias de hoje,muitas vezes nós nao temos nem a opçao de escolher. O salário da mulher entra como reforço do orçamento familiar quando nao é a única fonte de renda da família, e aí vem o acúmulo de funçoes.
Principalmente em lugares como a Alemanha onde na maioria das vezes nao se pode contar com ajuda alguma para os afazeres domésticos.

Pensando nisso e tentando encontrar respostas o jornal Die Zeit realizou um experimento no mínimo inovador e interessante.
Convidar as crianças de seus funcionários a passarem um dia em seu local de trabalho. Na verdade essa experiencia já tinha sido feita na redaçao do jornal britanico The Guardian e 17 crianças vieram. E os pais foram unanimes: Nunca mais.
Mesmo assim a redaçao do Die Zeit quis fazer o experimento.
Foram entao convidadas as crianças dos funcionários da matriz do jornal que fica em Berlim. Eram esperadas 19 crianças com idades entre 1 e 16 anos.
Um dia antes começaram entao a surgir as dúvias e preocupaçoes:
-Será que as tomadas sao seguras? -O que acontece se nao conseguirmos terminar o jornal à tempo? Tem bebida suficiente para as crianças? O que acontece se alguma criança quebrar (ou estragar) alguma máquina,ou objeto de valor, o seguro cobre?
Uma colega que nao tem filhos, logo pergunta:-Mas eles nao vao entrar no meu escritório vao?
A secretária que é mae de dois filhos entra em panico e vai dizendo:-Um dia inteiro acho que eu nao vou suportar.
Os pais se mostraram satisfeitos com a idéia porque raramente tem a oportunidade de passar um dia inteiro com seus filhos e as maes só diziam que ninguém tinha idéia de como uma experiencia dessas poderia ser estressante.


As crianças começaram a chegar às 10 horas, a primeira, uma garotinha de cinco anos, logo se mostra desapontadíssima porque ninguém enfeitou nada.
As crianças poderiam ficar à vontade para trazer o que quiserem de casa, brinquedos, livros ou outros objetos que as fizessem se sentir mais à vontade no desconhecido e sério mundo adulto.
As crianças trouxeram entao: Comida,livros, fitas cassete, jogos de cartas, joguinhos de montar,quebra-cabeças,MP3, bichinhos de plástico e as maes mais pessimistas trouxeram aparelhos portáteis de DVD e filmes.
Quanto mais as crianças espalhavam seus brinquedos pelos corredores da redaçao do jornal, mais aumentava o barulho das máquinas de café e o transito de pessoas que iam até a cozinha e voltavam com xícaras de café. É como se todos os adultos fossem de repente dependentes de cafeína,e a maioria só começou a trabalhar depois de tomar uma boa dose de café.
As perguntas mais frequentes das crianças eram:-Mas o que é trabalho? E o que é um chefe?Quem é esse homem que tem o poder de arruinar o nosso final de semana com um simples telefonema? -O que faz meus pais saírem de casa pela manha e só voltarem à noite?
-Ele tem cabelos vermelhos...Arrisca uma garotinha durante a reuniao da manha.
Ao todo 11 crianças estavam presentes na primeira reuniao da manha,outras viriam ainda.
Um bebe de 1 ano nao pára quieto no colo do pai durante a reuniao, e o pai entra em conflito. Como pai, ele soltaria o filho e o deixaria correr livremente pela sala,mas ao pensar nos outros colegas, tentava de toda maneira segurar o filho no colo,para nao atrapalhar.
Após a reuniao, as crianças começam a "se enturmar" e a entrar nos escritórios.
-Porque arrumar o quarto quando isso aqui é tao pior ? Adultos bebem direto da garrafa sem colocar nos copos, escondem chocolates nas gavetas e dizem merda com frequencia.
Uma garotinha pára em frente ao escritório do chefe do seu pai e dispara:
-E porque é voce,o chefe?
Antes que o tal chefe pudesse responder alguma coisa ela mesma sai com a resposta:
-Já sei,pra poder despedir as pessoas...
Uma mae pragueja que a idéia só poderia ter vindo de um homem sem filhos...
As crianças vao de uma sala à outra sem parar, enviam e-mails ....
Hora do almoço,os pais pedem pizza, e em segundos o chao fica coberto de manchas de catchup, gordura e migalhas. A maioria dos colegas sem filhos sai para o almoço e se demoraram mais que o normal.

Mais tarde, algumas crianças já entediadas correm para suas maes, e tudo fica parecendo como se estivessem em casa, dar atençao à criança, falar ao telefone, e olhar para que ninguém se machuque ou quebre alguma coisa.
Muitas foram as opinioes, de colegas com filhos, colegas sem filhos, das maes que se sentiram estressadas.

Quando alguma amiga sem filhos me pergunta se é possível trabalhar fora e construir carreira depois dos filhos, prefiro nao responder. É quase tao pessoal quanto ter ou nao ter filhos. Isso depende muito de cada um. Tenho amigas que tem 5 ou 6 filhos e nao tem a metade do estress de outras com 2. Outras com tres filhos que continuam a trabalhar fora e algumas com um filho que desistiram.
Acho que o que precisa realmente ser levado em consideraçao é a importancia e o peso que cada uma dessas coisas tem pra voce.
A mulher que trabalha fora hoje, acumula funçoes. Aqui na Europa como em muitos lugares do mundo, nós nao temos ajuda com a starefas domésticas, e às vezes é desolador chegar em casa e ver as camas por arrumar, pia cheia de louça e cesto cheio de roupa suja.
Muitas e muitas vezes tive vontade de sair correndo ou de chorar.
Mas apesar de tudo nao sei se me sentiria satisfeita se ficasse em casa 100% do tempo.
Por outro lado, nao é nada fácil gerenciar todas as atividades extras que os filhos tem hoje em dia. Nós atribuímos tantas tarefas extra curriculares, tantos cursos,tantas aulas para as crianças e depois nos vemos num aperto danado pra gerenciar tudo isso..

Ainda que nós falemos merda várias vezes ao dia, passamos boa parte do tempo, dizendo aos filhos que isso nao se fala, e isso dá um estress danado.
Nao é cuidar do bem estar do filho que estressa,cuidar de filho e trabalhar fora? Isso também nao estressa.Mas o que sim estressa é a obrigaçao de fazer dele um vencedor,a obrigaçao de ser a mae modelo, nao falhar na frente dos filhos, nao se mostrar fraco,isso é estressante, essa obrigaçao que nós temos de fazer o filho "dar certo". Porque de alguma maneira,ainda que voce nao se cobre nada disso, a sociedade vai cobrar de voce.
E ainda como muitas vezes nao temos tempo para dar a atençao que gostaríamos acabamos por nos tornar "mais moles". Talvez até porque fomos criados dentro de uma educaçao mais rígida, queremos fazer diferente com os nossos filhos.
Uma experiencia dessas como fez o jornal Die Zeit realmente nao é pra qualquer um, principalmente na Alemanha onde o povo alemao nao é lá muito simpático com crianças, mas isso já é assunto pra um outro post

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia carla!
Acho que na verdade por mais que façamos ,nunca nada está bom.
Fiquei em casa,fui mãe em tempo integral,por escolha própia e também porque não tive com quem deixá-las.Fui feliz ,agora volto a minha vida de proficional ,com muito cuidado.Estou voltando a estudar.Mas vou te contar uma coisa...minhas filhas não são pessoas melhores,porque fiquei em cas,são mimadas.Minha casa não é tão arrumada quanto gostaria .Acho que só poupei foi o stresse de ter jornada dupla.
Adimiro as mulheres que conseguem.
Por 22 anos fui mãe em tempo integral,não me arrependo.Mas sinto uma falta de ter cuidado do meu outro lado.Agora faço ,sem remórcio.
Beijos e um grande dia!

Sergio disse...

É Carla,
decisão dificil esta e muito pessoal também. Quando engravidei do Eduardo estava terminando o meu mestrado e assim que defendi minha tese resolvi ficar em casa e cuidar dele. Agora veio a Helena e por mais que eu sinta falta do meu trabalho não tive ainda coragem de deixá-los. A exemplo da Valeria, sei que eles não são melhores por eu estar em casa em tempo integral e as cobranças são infinitas. Não importa o que a gente faça sempre está errado e sempre aparece alguem pra te mostrar que poderia ter sido melhor. Aos poucos estou aprendendo a não me cobrar tanto e nem fica tão frustrada quando fracasso em alguma coisa. As vezes me pergunto se daria conta de tudo trabalhando fora; não sei.
Com o nascimento dos meus filhos eu escolhi me dedicar a eles e deixar pra trás o sonho de ser pesquisadora; sonho este que ja estava realizando com um certo sucesso. As vezes fico me lembrando de como adorava o meu trabalho mas não me arrependo da escolha que fiz. Por enquanto eu acho que fiz a escolha certa.

Regina disse...

Carla,

Excelente o seu post! Admiro muito pessoas como voce que conseguem conciliar ter filhos e trabalhar periodo integral (e ainda consegue fazer jantares com convidados para celebrar Hosh Hashana). Voce esta de parabens! Eu trabalho como free-lance sem um horario fixo (tenho dois filhos) e ainda assim acho que nao dou conta de tudo que tenho que dar.

Beijos,

Regina

Anônimo disse...

Carla, amei o post!!!

Ri muito. Deve ser pq ainda nao tenho filhos.

Um beijao

carol